Além do Escritório 2

O sábado amanheceu ensolarado, e o cheiro de churrasco logo se espalhou pela chácara. Mas Lucas não estava com a cabeça no que acontecia ao redor. Ele não conseguia parar de pensar em Rafael. Desde que chegaram, a tensão entre eles só aumentava. Mas o que mais o incomodava era que, mesmo com tudo o que acontecia, ele sentia uma atração ainda mais forte por Rafael a cada momento. Algo estava mudando nele, e ele não sabia se estava preparado para lidar com isso.

Antes do almoço, ele decidiu dar uma caminhada. Precisava de um tempo sozinho para clarear a mente. Era um dia quente, o tipo de calor que fazia a brisa suave da tarde se sentir como um abraço acolhedor. Lucas caminhava por uma trilha que levava a um campo aberto, onde a vegetação era baixa e o céu, quase sem nuvens, se estendia acima dele.

Enquanto caminhava, ele ouviu o som de passos atrás de si. Virou-se e encontrou Bento, um dos colegas mais próximos de trabalho, seguindo-o.

"Ei, Lucas, você também está fugindo da festa?" Bento perguntou, com um sorriso brincalhão. "Ou só precisa de um pouco de ar fresco?"

Lucas hesitou por um momento, sentindo o peso daquilo que estava vivendo com Rafael, e respondeu: "Preciso de um pouco de espaço, acho. Não consigo parar de pensar no trabalho e... bem, na viagem."

Bento caminhou ao lado dele, sem pressa, e começou a falar sobre como era bom estar longe da rotina, aproveitando a liberdade de um fim de semana em que podiam relaxar e esquecer as preocupações do dia a dia. Mas, ao contrário de Lucas, Bento parecia estar mais à vontade. Ele sempre foi um cara extrovertido e fácil de se entrosar, o tipo de pessoa que sabia como animar qualquer ambiente.

"Eu sei como é. Às vezes a gente precisa desse tempo, né?", disse Bento, com um sorriso. "Eu sou do tipo que gosta de viver o momento. Nada de ficar preso no trabalho o tempo todo."

A conversa foi fluindo de maneira natural, mas Lucas, ainda imerso em seus próprios pensamentos, começou a se perceber mais atento aos movimentos de Bento. Havia algo nele, algo despreocupado e espontâneo, que era completamente diferente de Rafael. Ele sentiu uma conexão mais leve com Bento, sem a carga emocional e o peso das responsabilidades que sentia com Rafael.

Enquanto conversavam, Bento começou a falar sobre a vida pessoal, compartilhando algumas histórias engraçadas e divertidas sobre sua adolescência. Mas de repente, ele parou e, com um olhar mais sério, disse: "Sabe, Lucas, às vezes eu fico vendo como você parece tenso, como se estivesse carregando um peso enorme. Não precisa carregar tudo sozinho, cara."

Lucas olhou para ele, surpreso com a sinceridade da observação. Ele não estava acostumado a ser visto assim. Bento sempre foi o tipo de pessoa que estava mais preocupado com as risadas e com o lado leve da vida. Mas algo na maneira como Bento o olhou fez Lucas baixar a guarda por um instante.

"É... eu estou lidando com algumas coisas, mas não sei se estou pronto para falar sobre isso", respondeu Lucas, tentando esconder a confusão que sentia. Ele sabia que Bento não merecia saber dos sentimentos que começavam a surgir por Rafael, e muito menos sobre o turbilhão emocional que o estava consumindo.

Bento sorriu de maneira compreensiva, mas, para surpresa de Lucas, deu um passo à frente, quase como se estivesse querendo aproximar-se mais. "Não precisa dizer nada, se não quiser. Mas se precisar de alguém para conversar, estou aqui, ok?"

Lucas sentiu um impulso estranho, algo que ele não esperava. A proximidade de Bento, o olhar intenso, quase íntimo, parecia convidá-lo a se abrir, a deixar de lado todas as barreiras que ele havia construído. Era como se, por um breve momento, ele estivesse sendo visto de uma maneira diferente, uma maneira que não exigia tanta complexidade.

E foi então que, sem que Lucas realmente soubesse como, Bento chegou mais perto, tocando suavemente o ombro dele. O gesto, embora simples, provocou um arrepio na pele de Lucas. Seus corações batiam mais rápido, e a tensão entre os dois crescia com cada segundo. Eles estavam em um lugar afastado, longe dos outros, onde poderiam ser apenas eles. A quietude do campo e o calor suave da tarde pareciam convidar a algo que Lucas sabia que não deveria acontecer.

Bento, com um sorriso mais suave, tocou seu rosto com a ponta dos dedos, quase como se estivesse pedindo permissão para ir mais longe. "Você é um cara legal, Lucas", ele disse, antes de se aproximar ainda mais.

Por um momento, Lucas sentiu o coração bater acelerado. A proximidade de Bento, a maneira como ele o olhava, tudo parecia indicar que algo estava prestes a acontecer. Mas então, antes que pudesse se decidir, um som à distância interrompeu o momento. Eles ouviram uma risada, e, de repente, a realidade voltou.

Bento afastou-se rapidamente, como se tivesse sentido a tensão no ar também. Ele sorriu e deu um passo atrás, quebrando o silêncio.

"Ei, acho que a festa está começando. Vamos voltar, né?" Bento disse com uma leveza que, de alguma forma, fez Lucas sentir uma pontada de frustração. A oportunidade desapareceu, mas o calor daquela troca ficou com ele.

"Sim, vamos", respondeu Lucas, mas, ao virar-se para caminhar de volta, ele sentiu o peso da situação. Ele estava preso entre Rafael e Bento, entre o que ele queria e o que sabia que não deveria fazer.